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Formação em Neuroeducação - Módulo 1 - Parte 3

 


MÓDULO 1 - Parte 3 - Introdução ao estudo da neurociência aplicada à educação: a neuroeducação - Conceitos básicos em Neurociência: neurodesenvolvimento e neuroplasticidade


O processo do neurodesenvolvimento inicia-se desde as primeiras semanas de gestação, estendendo-se até a idade adulta. Diversos processos neuroquímicos coordenados pela expressão de nossos genes ocorrem durante o curso desse desenvolvimento, sendo estes genes os responsáveis por desenvolver, diferenciar e maturar as estruturas cerebrais que compõem nosso SNC. Somente a partir do término destes processos é que podemos dizer que há uma adequada formação estrutural e funcional das diferentes regiões do nosso cérebro. Isso contribui para o surgimento e para variabilidade e diferenciação entre os indivíduos no que se refere aos seus repertórios comportamentais, ao seu funcionamento cognitivo e à expressão de suas respostas emocionais.

As etapas do neurodesenvolvimento, no entanto, ocorrem de modo progressivo e conforme cada região do nosso cérebro. Sendo assim, a etapa que abrange desde o período gestacional até a adultez é considerada crítica, promovendo as mais distintas mudanças nos indivíduos, sejam elas físicas, comportamentais ou emocionais. O processo de desenvolvimento do nosso cérebro é único, porém, durante sua formação, os neurônios necessariamente passam por algumas etapas antes de terem sua estrutura e função completas.


Neurogênese

O processo de diferenciação dos neurônios tem início a partir do desenvolvimento do tubo neural. Novas células-tronco dão origem às chamadas células nervosas imaturas. Estas células irão se diferenciar e formar os primeiros neurônios. Esse processo é conhecido como neurogênese e refere-se ao nascimento de novos neurônios a partir de células-tronco embrionárias. Interessante comentar que por muito tempo se acreditou que o nascimento de novos neurônios era restrito às fases iniciais do neurodesenvolvimento; entretanto, atualmente se reconhece que novos neurônios continuam a ser gerados ao longo da vida, ainda que de forma mais lenta e restrita a algumas regiões do nosso cérebro.


Seleção neuronal

Após o nascimento, os neurônios são selecionados em uma etapa que é denominada seleção neuronal. A seleção neuronal é responsável por eliminar parte excedente dos neurônios gerados. Os neurônios que não estão envolvidos em vias neurais são eliminados por um processo programado chamado de apoptose.


Migração neuronal

Aqueles neurônios que forem selecionados terão como destino regiões específicas do cérebro onde atuarão. Este processo chama-se migração neuronal e leva distintas classes de neurônios em conjunto, de forma que estes possam interagir até sua posição final. A localização final do neurônio, portanto, é essencial para sua adequada funcionalidade, uma vez que esta será dependente do estabelecimento de conexões precisas entre os neurônios e seus alvos. Assim, o neurônio, durante o processo do neurodesenvolvimento, precisa estar no local certo e no momento certo, a fim de que ele possa se integrar a uma rede neuronal funcional.


Diferenciação e Sinaptogênese

A partir do momento em que os neurônios se estabelecem em suas regiões-alvo, iniciam-se dois processos, chamados de diferenciação e sinaptogênese. A diferenciação celular refere-se ao momento em que a célula neuronal assume sua aparência e suas características finais, de modo que a arquitetura dos dendritos e do axônio depende deste processo. A sinaptogênese, por sua vez, é o processo seguinte, no qual os neurônios encontram seus alvos apropriados e passam a estabelecer conexões. Imagine um neurônio já diferenciado brotando, através do cone de crescimento, formando contato com seus alvos, estabelecendo sítios de ligação (sinapses) e consolidando sua adequada função.

Embora tais processos sejam em sua maioria geneticamente determinados, conforme comentado, reconhece-se que algumas destas conexões respondem às influências do ambiente no qual os indivíduos estão inseridos. Mesmo que os processos do neurodesenvolvimento tenham atingido seu estágio final, ou seja, ainda que conexões tenham sido estabelecidas, os padrões de atividade neuronal é que moldarão os circuitos sinápticos.

Em outras palavras, é a atividade neuronal, em resposta aos estímulos e à interação com o ambiente, que possibilita a estruturação e o funcionamento dos nossos circuitos cerebrais. Assim, a estimulação adequada desde os primeiros anos de vida pode ser responsável por reforçar e promover a formação de novas conexões. Em contrapartida, a ausência ou a inadequação dessa estimulação seriam responsáveis por empobrecer e causar prejuízos nesta formação, podendo, inclusive, interromper ou eliminar o estabelecimento de determinadas conexões, seja por falta de uso, ausência de estímulo ou exposição a estímulos excessivos.

Justamente por se estenderem por diferentes períodos da trajetória do nosso desenvolvimento é que tais processos tornam-se suscetíveis às influências, positivas ou negativas, do ambiente. Determinadas estruturas cerebrais possuem um desenvolvimento mais acelerado, já em períodos gestacionais ou logo cedo nos primeiros meses de vida, atingindo sua maturação durante a primeira infância. Um exemplo de região que possui tal característica em sua trajetória de desenvolvimento é o hipocampo. Outras regiões cerebrais, como por exemplo o córtex pré-frontal e a amígdala, apresentam um desenvolvimento mais lento e progressivo, estendendo-se ao longo de toda a infância e adolescência. Discute-se que sua possível maturação somente esteja completa no início da vida adulta.


Para além da formação e maturação destas regiões, aspectos funcionais também se diferem no curso do desenvolvimento. A função exercida por cada uma das regiões do cérebro possui relação com as necessidades e demandas daquele período do desenvolvimento. Portanto, funções motoras tendem a se desenvolver mais precocemente em comparação às regiões responsáveis por funções cognitivas complexas, a exemplo de planejamento, controle inibitório, flexibilidade cognitiva, regulação emocional etc.

Até aqui fomos capazes de identificar que nosso cérebro passa por múltiplos processos durante seu desenvolvimento e reflete as experiências vividas por cada indivíduo ao longo de sua trajetória de desenvolvimento. Portanto, podemos considerar que o SNC é adaptável, sofrendo influência do ambiente e passando por mudanças e transformações. Esta capacidade de se modificar por meio das experiências é denominada de neuroplasticidade.

A neuroplasticidade refere-se à propriedade que o sistema nervoso central tem de alterar sua função ou estrutura em resposta às influências ambientais ou demandas internas do organismo. Isto é, nossos neurônios possuem a capacidade de formar ou restabelecer conexões entre eles a partir das constantes interações com o ambiente, como uma espécie de resposta e mudança neuronal frente aos estímulos ambientais aos quais os indivíduos são expostos durante sua vida. Neste sentido, entende-se que as nossas aprendizagens são uma das consequências destas capacidades de modificação das estruturas e conexões dos neurônios.

Professor(a), desde o início do período pós-natal, denota-se uma responsividade do cérebro por estímulos, os quais serão determinantes para todo desenvolvimento cognitivo subsequente. Muitas das mudanças, portanto, ocorrerão na infância a partir das experiências que este cérebro em desenvolvimento terá com seu ambiente. Este representa o primeiro período de modificações plásticas, sendo responsável por organizar e estruturar a arquitetura do nosso cérebro. A partir disso, torna-se mais difícil a ocorrência de mudanças significativas nesse cérebro no futuro, uma vez que as conexões já estão mais bem consolidadas e estabelecidas (o que não significa que não seja possível existirem tais modificações na vida adulta).

A adolescência, também, representa um período de transformações, sejam elas biológicas, hormonais ou comportamentais. O cérebro adolescente, neste sentido, passa por uma reorganização, aproximando-se da sua forma adulta. Ambos os períodos, da infância e da adolescência, são tidos como críticos em razão das diversas transformações que estão ocorrendo no cérebro, aumentando a potencialidade do desenvolvimento e do aprendizado, mas, ao mesmo tempo, conferindo riscos a partir da influência de estressores.

Compreendemos agora que o cérebro é uma estrutura em constante construção e mudança, assim como percebemos que os indivíduos aprendem diferentes comportamentos e expressam suas emoções de formas distintas ao longo de sua vida. Diversas evidências científicas sugerem que tal variabilidade no repertório comportamental e nas expressões emocionais se deva aos fenômenos plásticos do SNC. A aquisição de conhecimentos e aprendizagens também é fruto destas mudanças cerebrais, através de alterações bioquímicas que ocorrem nos nossos neurônios e nas suas conexões.

Reconhecer e explorar tais capacidades do nosso cérebro e os momentos em que as aprendizagens e modificações são favorecidas torna-se fundamental, não só para neurocientistas e profissionais da saúde, como também para vocês, educadores, que compartilham boa parte dessa trajetória de desenvolvimento do cérebro em sala de aula com seus respectivos alunos.

FONTE: AVAMEC


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