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Formação em Neuroeducação - Módulo 1 - Parte 1

 

Apresentação

Módulo 1 - Introdução ao estudo da neurociência aplicada à educação: a neuroeducação

Professor(a), a Neurociência é um campo de estudo multidisciplinar do conhecimento que busca investigar o funcionamento do sistema nervoso a fim de compreender as bases biológicas do comportamento. Interessa-se por questões que perpassam o desenvolvimento deste sistema nervoso, suas principais estruturas e a forma pela qual é possível relacionar tais aspectos com a expressão dos nossos comportamentos e emoções, nosso funcionamento cognitivo, tanto em condições normais quanto em condições patológicas.

O sistema nervoso central (SNC), em especial, nosso cérebro, representa uma das estruturas que mais fascina e intriga os neurocientistas e pesquisadores da área. Desvendar questões relacionadas a como o cérebro funciona, se desenvolve e se organiza a fim de possibilitar processos cognitivos complexos e expressões emocionais e comportamentais ainda representa um dos grandes mistérios da atualidade. Considera-se, assim, que uma das últimas fronteiras no campo das Neurociências a serem superadas refere-se às investigações do cérebro, desde seus aspectos estruturais e funcionais até os processos que perpassam o funcionamento da mente humana.

Tudo isso nos leva, consequentemente, a uma melhor compreensão acerca da manifestação dos nossos comportamentos e, entre eles, o desenvolvimento das nossas aprendizagens, tornando possível ligar o que ocorre em níveis genéticos e biológicos com aquilo que fazemos, sentimos, pensamos ou aprendemos. A denominada “genética do comportamento” apresenta-se como uma das revoluções da Neurociência moderna.

A chamada Neuroeducação é um subcampo das neurociências que irá buscar integrar tais conhecimentos a fim de melhor compreender os processos que perpassam o aprendizado, a memória e o próprio neurodesenvolvimento.

Diferentes áreas do conhecimento contribuem para o campo da Neuroeducação, como a Psicologia, a Pedagogia, a Psicopedagogia, a Educação e a própria Neurociência. Portanto, um dos principais objetivos a serem alcançados por esta área de estudo é o de proporcionar conhecimento e base científica aos educadores para que possam desenvolver métodos de ensino e aprendizagem, assim como estruturar planos pedagógicos e currículos mais eficientes e capazes de estimular as potencialidades dos indivíduos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos. Isso inclui indivíduos com condições típicas e atípicas do desenvolvimento do cérebro.

Neste sentido, a interface que se constrói entre a neurociência e a Educação oferece fundamentos para as práticas pedagógicas, incentivando investigações e proposições de estratégias de ensino-aprendizagem que possam ser mais eficientes de acordo com a maneira pela qual o nosso cérebro funciona e aprende. Como aprendizagem, podemos entender todos os processos pelos quais competências, habilidades e conhecimentos, comportamentos e valores são adquiridos ou modificados como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação.

Podemos considerar que o processo educacional perpassa aquilo que ocorre em nosso cérebro, mais especificamente, nos nossos neurônios, os quais representam o principal componente do SNC. São os processos e o funcionamento dos nossos neurônios que dão base para o aprendizado, a memória e as capacidades de raciocínio, resolução de problemas e tomada de decisão. Essa representa uma das descobertas mais fascinantes do campo das neurociências aplicadas aos diferentes contextos, como a educação. A forma como alterações bioquímicas que ocorrem internamente nos nossos neurônios estão associadas à aprendizagem e ao armazenamento. Segundo o pesquisador Eric Kandel, vencedor do prêmio Nobel de Medicina, no livro de referência de sua coautoria, “Principles of Neural Science” ([1981]2021)

A última fronteira das ciências biológicas é compreender as bases biológicas da consciência e dos processos mentais como agir, aprender e lembrar (...) O passo mais desafiador é unificar os processos biológicos com o estudo do comportamento – ciências da mente – e a ciência neural, a ciência do cérebro (KANDEL, 2021, p. 6, tradução nossa).

Isto nos leva a pensar que estamos diante de um momento importante de avanço dos conhecimentos sobre o cérebro humano que permite repensarmos práticas aplicadas à educação. O avanço científico e tecnológico da área tem tornado possível estabelecer relações entre processos biológicos e a expressão dos nossos comportamentos, sendo capaz, inclusive, de explicar as origens dos transtornos neuropsiquiátricos e do seu desenvolvimento por meio de atividades intrínsecas ou de base genética, compreendendo sua interação com experiências e influências ambientais.

Sabe-se que, para a Neurociência, o ambiente possui um papel importante para a estimulação e o desenvolvimento dos indivíduos. A interação das nossas bases genética e biológica, ou seja, aquilo que é programado e esperado para manifestarmos com base no nosso DNA, em combinação com estímulos ambientais e experiências ao longo da vida revela-se determinante para a nossa trajetória de desenvolvimento. Fatores como experiências parentais, educacionais, nutricionais e sociais são sugeridos como fortes preditores de um adequado desenvolvimento do cérebro.

A falha ou o não atendimento de necessidades básicas em períodos iniciais do desenvolvimento — como por exemplo afeto, carinho, segurança e estabilidade — pode reprogramar o curso e os processos de formação do nosso cérebro (alterando estruturas e seu funcionamento) e conduzir a prejuízos psicológicos e cognitivos significativos. Evidências já indicam que exposição a experiências adversas e estressoras na infância e, também, na adolescência estão associadas a baixos níveis de inteligência (avaliado através de testes de QI), problemas escolares de aprendizagem e desempenho, além de aumentarem o risco de manifestação de distúrbios emocionais e comportamentais. Vamos ter a oportunidade de aprender um pouco mais sobre isso quando falarmos em estresse e neurodesenvolvimento, abordando de que forma tal relação interfere nos processos de aprendizagem e memória.

Neste sentido, dentro de uma perspectiva da Neuroeducação, podemos considerar que vocês, educadores, formam um dos pilares ambientais mais importantes para o desenvolvimento humano. Isto faz com que se apresente uma crescente demanda de integração do conhecimento a fim de planejar estratégias pedagógicas que possam estar alinhadas com as experiências e a trajetória de vida dos indivíduos ao longo do seu processo de formação e desenvolvimento.

Possuímos um papel central para este cérebro em desenvolvimento, especialmente durante os primeiros anos de vida. Para que isso ocorra, precisamos pensar que as nossas práticas do futuro devem ser capazes de construir estratégias que se alinhem ao funcionamento do cérebro na busca de melhores resultados.

No entanto, vocês devem estar se perguntando:

Como é possível que nossas aprendizagens tenham como base o funcionamento dos nossos neurônios?

Será que é possível que nossas memórias estejam armazenadas em padrões de atividade neuronal?

O que faz com que crianças e adolescentes tenham diferenças em relação à facilidade com que aprendem certos conteúdos em comparação com outros, para os quais apresentam maiores dificuldades?

Quais seriam as estratégias de aprendizagem adequadas a fim de facilitar os processos de ensino e aprendizagem, considerando-se o funcionamento do cérebro?

Qual é a influência de fatores psicossociais e parentais em tais processos, para além da atuação do educador?

Estas são algumas questões da rotina do professor em sala de aula, várias delas ainda sem, necessariamente, uma resposta única ou concreta. Porém, o caminho do conhecimento para a busca de tais entendimentos está sendo cada vez mais bem explorado pelo campo da Neurociência. Denota-se uma grande necessidade do estabelecimento de uma via de mão dupla na comunicação entre neurocientistas e educadores, pois os primeiros possuem um conhecimento sobre o funcionamento do cérebro e os mecanismos subjacentes aos processos cognitivos, enquanto os últimos estão envolvidos nos problemas práticos do dia a dia que se relacionam diretamente com os processos de ensino-aprendizagem. Isso tem atraído diversos educadores a buscarem formações continuadas na área das Neurociências. Percebe-se um crescente interesse por parte deste público e uma maior participação em cursos da área, incluindo formações de extensão e pós-graduação.

A proposta deste curso formativo é exatamente esta: ser capaz de conduzir os educadores de diferentes etapas do ensino básico nacional (Ensino Infantil, Fundamental I e II, Médio e Educação de Jovens e Adultos) na aquisição de conhecimentos sobre o funcionamento do SNC e das diferentes regiões que o compõem e, finalmente, no reconhecimento de como os processos cognitivos que permitem o desenvolvimento das nossas aprendizagens podem ser aplicados em condições reais do cotidiano a fim de alinhar novas estratégias e práticas educacionais. Assim, espera-se que tais respostas possam ser, ao menos em parte, respondidas ao longo do curso, ainda que se saiba, hoje, que nem mesmo a Neurociência é capaz de oferecer todas as respostas.

Muitos questionamentos acerca do funcionamento do cérebro humano ainda precisam ser respondidos. Isso demanda um maior número de pesquisas nas diferentes áreas de estudo do cérebro, assim como na própria educação. O papel do educador em levantar questionamentos e elucidar demandas e problemas práticos de sala de aula, a partir de suas observações empíricas no campo, torna-se essencial para o desenvolvimento das pesquisas que buscam melhor compreender como nossos cérebros se organizam e respondem aos estímulos e desafios apresentados, contribuindo na construção das nossas aprendizagens.

FONTE: AVAMEC

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